Ser uma escrava pode ser, uma vida maravilhosa...

Há alguns meses atrás recebi um belo texto retratando a vida de uma escrava, desde a decisão de se tornar uma até como pode ser sua vida a partir dessa decisão. Na época ao le-lo, confesso não ter assimilado bem todo seu conteúdo, não que hoje já o tenha assimilado por completo, mas já não o interpreto mas da mesma forma. Lembro-me de ter achado alguns trechos muito fantasiosos, distantes da nossa realidade diária. Nele falava-se em abrir mão do controle de minha vida e entrega-lo a outra pessoa, em não ter mais direitos antes conquistados e vivenciados por mim. Mostrava um mundo onde a entrega e submissão aconteciam de forma totalmente consciente e de comum acordo. Pensei, isso não é tão real assim, aprendi desde cedo a tomar minhas proprias decisões, a escolher meus caminhos, como posso agora simplesmente mudar isso?, como confiar tão plenamente em alguém a ponto de lhe entregar o comando, a direção de minha vida?...esses e outros questionamentos da mesma natureza percorreram minha mente. Porém, o tempo foi passando, fui conhecendo um pouco mais sobre o SM e a relação D/s e relendo sempre esse texto...a cada nova descoberta...a cada nova leitura minha mente ia se transformando e quando dei por mim me vi desejando essa entrega...esse dominio...ter alguém ao meu lado cuidando, guiando, ensinando, moldando... Começei a entender que ser uma escrava SM era muito além do havia vislumbrado até então. Entendi que entramos no relacionamento por livre escolha, sem nenhum tipo de coação, escolhemos nosso Dono, a quem queremos servir. Entendi que era minha escolha! Eu é quem decidiria entregar meu poder, o poder de minhas escolhas e decisões a meu Dono, simplesmente por necessitar dessa entrega. Isso não significaria que ao longo da relação não seria obrigada a fazer coisas que normalmente não faria, mas faria com a certeza que aquela ordem nunca seria contra nada daquilo que eu sou, seria apenas uma ordem necessaria para ajudar-me a ser uma pessoa melhor ou a me desinibir. Vi que um Dono não deseja ter um capacho como escrava, nem alguém que viva tentando dizer a ele como fazer as coisas, teria que aprender a me controlar, a dizer as coisas que penso e sinto sem me sobrepor a Ele, e isso seria um treinamento e tanto para mim... Compreender e aceitar que os desejos e necessidades Dele viriam antes da minha, lidar com limites... Teria que ser uma relação verdadeira, construida na base da confiança... Aprender sobre minhas necessidades e vontades, para distingui-las, porque dali para frente minhas necessidades iriam ser atendidas e asseguradas pelo meu Dono, mas as vontades, estas caberiam a Ele decidir o que fosse melhor para mim, não caberia mas a mim esta decisão. Necessidades são requerimentos da vida para que você se mantenha saudável física e emocionalmente. Isso nos permite crescer espiritualmente e emocionalmente. Se você pode sobreviver sem uma determinada coisa, então essa é apenas uma vontade. Passei a ver que para ser uma escrava, haveria uma série de coisas a aceitar dentro de mim mesma e situações às quais teria que me adaptar.Que a partir do momento de minha decisão de entrega meu primeiro objetivo na vida seria ver o prazer (tanto mental quanto físico) do meu Dono, da forma em que ele o deseja. E para fazer isso,deveria aprender bem sobre ele. Descobrir o que O agrada e o que O desagrada. E, isso não se aplica apenas na área sexual,o sexo é apenas uma parte (importante) do relacionamento. Lembrar sempre que a coisa mais agradável a Ele deverá ser eu. Aprender a observar e estar atenta aos desejos daquele que me cuida, e daí obter a minha felicidade. Sei que a estrada não é fácil nem curta, tenho e terei ainda muito que aprender e coisas a re-aprender também. A maior parte das decisões deixarão de estar nas minhas mãos e passarão a serem tomadas por meu Dono. Mas, precisamos estar com os pés no chão ao tomarmos essa decisão, consciente de nossas escolhas, e acima de tudo muita honestidade, honestidade para comigo mesma, em primeiro lugar. Estar consciente que não é tão fácil e mágico como parece, manter a mente clara para quando aceitar a coleira do meu Dono, estar ciente que naquele momento estarei abrindo mão dos meus direitos, que amigos, minha vida...nada mais permanecerá como meu. Que ser uma escrava não é apenas uma palavra, é um estilo de vida, uma ação definida. Essa é a visão que tenho hoje acerca da reflexão que um dia recebi, pode ainda não ser a definitiva ou a mais correta, mas no momento é como estou visualizando e sentindo essa entrega. Posso ainda mudar e muito esse texto ao longo de minha caminhada SM...